«…O Fórum Centro de Portugal tem como rosto mais visível o ex-deputado do CDS Manuel Queiró, num grupo que é caracterizado por uma grande heterogeneidade e no qual participam também Vital Moreira, Marinho Pinto, Carlos Encarnação, Carlos Fiolhais, Henrique Neto e vários autarcas, académicos e empresários.
O movimento surgiu de forma espontânea pela constatação de que o Centro do país tem vindo a perder peso no que diz respeito aos modos de transporte rápidos do futuro. “A região que está entre o Douro e o Tejo tem vindo a ser colocada numa posição complicada, porque o futuro das áreas territoriais está hoje ligado a factores que não existiam no passado e que são a comunicabilidade internacional”, diz Manuel Queiró, constatando que entre Vilar Formoso e Elvas não há nenhuma saída rápida para Espanha, nem rodoviária, nem ferroviária, dado que, sobre esta última, o abandono do desenho do “T deitado” (uma linha de alta velocidade Lisboa-Porto com saída para Madrid) fez com que se privilegiasse a ligação Lisboa-Madrid por Badajoz. Uma forma de quebrar este isolamento é a utilização do aeroporto de Monte Real, que resolve pelo menos o problema de acessibilidade internacional da região centro litoral e, por acréscimo, da região oeste. António Carneiro, da Turismo do Oeste, diz que alguns dos projectos turísticos com hotéis de cinco estrelas ancorados no golfe precisam de uma pista próxima para o transporte de turistas do Norte da Europa. Este responsável, que já tinha realizado algumas iniciativas avulsas para abrir Monte Real à aviação civil, diz que desconhecia a existência do Fórum Centro de Portugal, porque os oestinos andaram muito envolvidos na causa perdida que foi a Ota.
Fazer passar a mensagem de que não se pretende construir mais um aeroporto em Portugal é um dos desafios do Fórum, que tem consciência da impopularidade da sua reivindicação em alguns sectores, sobretudo num contexto de crise. A ideia é sublinhar até à exaustão que o aeroporto já existe, bem como o controlo aéreo e demais equipamentos aeroportuários. Só falta mesmo construir um terminal, o que é relativamente barato. “Não é preciso fazer nenhum aeroporto”, diz Manuel Queiró, arriscando mesmo que o slogan do movimento pode ser “O aeroporto já lá está!”. António Carneiro, da Turismo do Oeste, sublinha que está em causa “um investimento que representa 1 por cento do custo de Alcochete” e dá o exemplo de Valladolid como uma base militar que também funciona com terminal de passageiros, no qual operam companhias low cost. Manuel Queiró diz que os objectivos do Fórum Centro não se esgotam no aeroporto e passam por colocar na agenda pública o isolamento e desertificação do interior e a necessidade de fazer da Estremadura espanhola um hinterland do centro de Portugal.»
Carlos Cipriano, texto publicado no jornal “Público”
(25 Agosto 2010)