«Luanda vai transformar-se, nos dias 4 e 5 de Junho próximo, na capital da aviação. Mais de cinco mil pessoas são aguardadas na capital angolana, para participarem na primeira Feira Internacional da Aviação em Angola (EXPO AEREO ANGOLA), numa iniciativa da empresa FLY EMI, em parceria com a Força Aérea Nacional (FAN). O director-geral da empresa, Emerson Raposo, considerou, em entrevista ao Jornal de Angola, que a feira é uma oportunidade para o estabelecimento de parcerias empresariais, lançamento de novos produtos e do primeiro emprego. Avaliada em mais de 400 mil dólares, a feira vai ter a participação de transportadoras aéreas nacionais e estrangeiras.
JA- Como surgiu a ideia de organizar uma Exposição Internacional Aérea em Angola?
Emerson Raposo – Quero antes dizer que sou uma pessoa apaixonada pela aviação. Tenho um contacto muito forte com a indústria aeronáutica. Sou filho de pessoas que viveram da aviação, apesar de, infelizmente, os meus pais já serem falecidos. Os meus tios também são pilotos. Respondendo agora à sua pergunta, devo dizer que a ideia surge da necessidade de, nós angolanos, mostrarmos ao mundo que somos capazes. A feira justifica-se, também, com o facto de Angola ter um grande mercado de aviação, com a necessidade de estabelecermos novos métodos, novos objectivos no mercado de aviação interno, para que haja qualidade de serviço na aviação nacional. Este tipo de feira é o local onde as companhias aéreas podem estabelecer novos acordos de negócios e resolver divergências.
JA – Como avalia a competitividade no mercado da aviação?
ER – Estamos num mercado onde a competitividade, na minha opinião, não é tomada de maneira leal, porque há pouca cooperação entre as companhias aéreas. Por exemplo, uma determinada companhia cancela o seu voo e os passageiros ficam em terra! Num mundo moderno, numa sociedade onde a aviação se faz presente de maneira correcta, você que cancela os seus voos, automaticamente metade ou todos os passageiros são transferidos para outra companhia que os vai transportar para o mesmo destino. Quer dizer que os clientes não ficam atirados à sua sorte. Temos cá entidades que regulam a actividade aeronáutica no país. Cada um faz o que pode, mas acho que esta feira vem para realçar este tipo de situações, para haver acordos de negócios, analisarmos o nosso mundo da aviação, criar novos produtos. Defendo, por exemplo, o conceito de que sem aviação não temos turismo porque, para o desenvolvimento do turismo no país, precisamos de criar pacotes, viagens e bilhetes promocionais. Como vemos na Europa, você paga um bilhete de passagem e viajam duas pessoas.
JA – O que falta no nosso mercado para que esse tipo de incentivos seja concretizado?
ER – Nós também podemos fazer essas promoções, mas as pessoas precisam de ser incentivadas para que isso aconteça. Precisamos de despertar as operadoras nacionais e internacionais para que criem este tipo de produtos e serviços para os seus clientes em Angola, tal como acontece noutras paragens.
JA – A feira não vai ser apenas uma simples exposição de aviões que marcaram várias épocas da história da aviação?
ER – A feira, em princípio, vai ser nos dias 4 e 5 de Junho, um mês conhecido como o da criança. Aproveitamos esta ocasião para oferecer às nossas crianças a oportunidade de voltarem a sonhar. Sabemos que, antigamente, quando se perguntava a uma criança o que pretendia ser no futuro, muitas diziam que queriam ser pilotos. Então, queremos dar essa oportunidade às crianças de viverem o sonho da aviação, de estarem dentro do avião, de um cockpit, e entender o que é um avião, o serviço de hospedeira, as responsabilidades dos pilotos. Assim, as crianças vão ter um motivo para sonhar, mesmo que não venham a ser pilotos ou hospedeiras. Aquele momento mágico vai proporcionar-lhes muitas emoções, vai ser uma coisa ímpar! Este é também um dos nossos objectivos com a realização da feira, para além, é claro, da necessidade de interligar as companhias aéreas.
JA – Que atracções os visitantes vão ter durante os dois dias da feira?
ER – Dentro do evento, vamos ter outras atracções, como um show aéreo, em parceria com a Força Aérea Nacional, acrobacias com aviões que vêm da África do Sul, uma conferência de imprensa onde vamos abordar assuntos que têm a ver com a gestão aeroportuária, o processo de certificação das companhias aéreas, a relação entre as transportadoras e as agências de viagens e como as companhias aéreas podem promover o turismo, colaborando com o Ministério da Hotelaria e Turismo. Vamos ter também espectáculos musicais com vários artistas da nossa praça.
JA – Que aviões as pessoas que visitarem a feira vão ter oportunidade de ver?
ER – Vamos encontrar todo o tipo de aviões, desde comerciais, executivos e militares. Há muita gente que desconhece o equipamento da nossa Força Aérea Nacional, que neste momento está bem actualizado, com Migs de última geração e muitas outras novidades. Isso tudo vai proporcionar uma emoção às pessoas que visitarem a feira. Temos, também, muita gente que já viajou, mas nunca entrou num avião executivo. Com esta feira, essa gente vai sentir aquela emoção que é estar num avião deste tipo, vai sentir, entender a sua configuração. Mas temos outras actividades que ainda estão em análise.
JA – Para além da TAAG e da Força Aérea Nacional, que outras companhias vão estar presentes na feira?
ER – Estamos a contar com a participação de 60 transportadoras aéreas e agências de viagem. Vamos ter a participação da Sonair, do Grupo Sonangol, das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), Transportadora Aérea de Portugal (TAP) e da British Airways (Reino Unido), uma companhia muito conceituada e respeitada a nível internacional, com a qual, inclusive, estamos em negociações para a publicação do evento numa das mais populares revistas dessa companhia britânica. Vamos ter também a presença da Lufthansa, da Alemanha, da Brussels, da Bélgica, da TAAG, a Angola Air Service, Puma Air, uma companhia que vai abrir brevemente os seus serviços no país, a Diexim, a Fly 540 e Kenya Airways. Portanto, todas as companhias angolanas e estrangeiras que operam no mercado nacional já foram convidadas e temos a sua confirmação. As mesmas estão motivadas a participar na nossa feira. As agências de viagens, como a Paccitur e a Tropicana, umas das agências mais antigas do mercado, estão muito empolgadas com a ideia da feira e já confirmaram também a sua presença. Este é um evento que vai merecer um grande destaque. Estamos a prever trabalhar com o Instituto Nacional da Criança, por causa das crianças. Todas as crianças que adquirirem os convites a partir das escolas têm um desconto significativo, na medida em que vamos estar no mês dedicado a elas. Queremos ver a emoção delas ao estarem perto de todos aqueles aviões.
JA – Um evento dessa natureza e com a campanha de publicidade e marketing que vai ser feita, em termos de adesão, quantas pessoas vocês esperam que venham a visitar a feira durante os dois dias?
ER – Em função da ansiedade e da expectativa que vai ser criada pela campanha de marketing e publicidade, nós estamos a prever receber durante a exposição mais de cinco mil pessoas.
JA – Existe uma grande reclamação sobre os serviços prestados por algumas companhias aéreas. O que é que a organização da feira tem para mostrar aos visitantes neste capítulo?
ER – O público-alvo desses serviços vai fazer-se presente. Obviamente, muitos estão satisfeitos pelos serviços prestados pelas companhias aéreas e outros não. Mas isso é mesmo assim, não há lugar onde tudo funcione perfeitamente. Mas acreditamos que, a partir da realização da feira, as coisas podem, eventualmente, mudar para melhor ou ter um começo para a mudança. Não podemos continuar no estado em que estamos! Os clientes vão ter a oportunidade de manifestar as suas preocupações ou interesses quanto aos serviços prestados pelas companhias. Acredito que vamos ter um bom feedback dos nossos visitantes, no sentido de que os passageiros possam fazer pesquisas de outras companhias em que normalmente não estão habituados a viajar.
JA – Acha que a indústria aeronáutica em Angola é suficientemente atractiva para que os jovens sigam, por exemplo, o ramo da aviação?
ER – Há muitos jovens interessados, tal como acontece noutros sectores. O problema é que estamos um pouco limitados em termos de escolas de aviação, pois a única e a melhor que temos aqui é a da Força Aérea Nacional, localizada no Lobito, província de Benguela. Tenho conhecimento da existência de outras escolas que tentam fazer alguma coisa. Há muita adesão. Temos um número muito grande de jovens a fazerem cursos de assistente de bordo no Brasil e em Portugal. A aeronáutica é um ramo que exige alguma formação específica para se poder ser admitido, mas a verdade é que há muitos jovens com pretensões de entrar nesse mundo dos aviões.
JA – Levar jovens a interessar-se mais pela aviação vai ser também um dos objectivos da feira?
ER – Exactamente! E é por isso que todos os expositores vão estar abertos à recepção de candidaturas de quem esteja interessado a entrar para a aviação. O que nós pretendemos é juntar o útil ao agradável. Cada stand vai ter um espaço onde vai receber os visitantes e os eventuais candidatos a um emprego no ramo da aviação. Os expositores vão poder não responder na hora, mas vão analisar os currículos. Obviamente, vai ser a oportunidade do primeiro emprego para muita gente.
JA – Uma organização desse género exige muitos custos financeiros, meios materiais e mobilização de pessoal. Vocês estão preparados para um projecto de tamanha envergadura?
ER – Estamos preparados para essa grande realização. Obviamente, contamos com alguns apoios, que já estão garantidos. Estamos em negociações com outras entidades públicas e privadas. Em princípio, esse é um projecto que arrancou com custos próprios e, na devida altura, vamos anunciar as pessoas e empresas que aceitaram juntar-se a nós para a realização da feira.
JA – Em termos de custos financeiros, em quanto está avaliada a feira?
ER – Esse é um projecto avaliado em mais de 400 mil dólares. Só para ter uma ideia, em publicidade vão ser investidos cerca de 100 mil dólares. Vamos elaborar catálogos vip e fazer a montagem dos stands. Quer dizer: é um projecto que vai ter um investimento muito alto, mas é obvio que esperamos ter um retorno. Aliás, tudo o que é relacionado com a aviação é muito caro. A aviação é chamada de negócio de milionário, porque tudo parte apenas de milhões e não de 300 mil dólares. É um negócio de milhões que gera milhões.»
Domingos dos Santos, artigo publicado no “Jornal de Angola”
(9 Março 2011)
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