“É necessário tomar decisões”, disse o presidente da maior construtora portuguesa, acrescentando acreditar que será desta que será tomada a decisão pela qual se aguarda há mais de 50 anos. “Sou um crente e sou pessoa muito otimista”, justificou. A construção de um novo aeroporto na região de Lisboa está a ser analisada por uma comissão técnica independente criada para esse efeito. Sobre a comissão que estuda a localização do novo aeroporto, o gestor disse esperar que haja uma conclusão atempadamente para que haja uma discussão pública e depois uma decisão de consenso entre “o maior partido da oposição e o partido do poder”, considerando que a indefinição traz “perda financeira” para a economia portuguesa e para a sua competitividade.
Mota-Engil – Carlos Santos Mota, de 44 anos, tomou posse como presidente da Mota-Engil (empresa fundada pela sua família) no início do ano
O presidente da Mota-Engil disse que a construtora portuguesa não tem sentido qualquer condicionamento por ter um acionista chinês e considerou que há um problema de dimensão nas empresas de construção em Portugal e falta de cultura de fusões. “Não temos cultura de promover fusões, de ganhar escala, infelizmente”, afirmou Carlos Mota Santos no almoço-debate do International Club of Portugal, em Lisboa, recordando que designadamente empresas espanholas conseguiram escala por fusões. Segundo o gestor, sem a devida dimensão, as empresas “não têm lugar no mercado internacional”. Das 25 maiores empresas do setor em 2006, hoje só existem 11 e apenas sete são de origem portuguesa, como Mota-Engil, Teixeira Duarte e Somague, disse. Sobre a China Communications Construction Company (CCCC) ter 30% da Mota-Engil, Mota Santos não esteve com rodeios: “O Estado chinês é nosso acionista”, afirmou, já que a CCCC é detida pelo Estado da República Popular da China.
Mota Santos afirmou, contudo, que isso não tem condicionado negativamente a empresa: “Mesmo o México, mercado de base norte-americana, não sentimos nenhum tipo de restrição, condicionamento ou qualquer tipo de problema por ter acionista de referência como CCCC”. E recordou que em Portugal o investimento chinês é transversal. “A China não é só nosso acionista, já é de parte significativa do tecido empresarial português, banca, seguros, saúde, energia”, afirmou. Aliás, disse, além do investimento chinês, os restantes investimentos estrangeiros principais não são na indústria e são sobretudo “oportunísticos”. “Não tem havido investimento que não chinês em Portugal nos últimos anos, todo o investimento norte-americano ou europeu, com uma ou duas exceções, é mais oportunístico. São fundos imobiliários e fundos abutres, não os vejo a investir em nenhuma indústria”, afirmou. Quanto aos receios sobre o agudizar de tensão entre China e Estados Unidos, disse que se isso acontecer é um grave problema para todos os cidadãos. “A Mota-Engil será o menor dos problemas”, considerou.
A Mota-Engil está sobretudo concentrada em África, América Latina e Europa, referindo o gestor que é a partir desses mercados principais que tenta promover mais negócio, afirmando que quando se pensa na empresa se relaciona sempre com engenharia e construção mas que tem cada vez mais negócio na área ambiental, no tratamento de resíduos, e que nos mercados externos quer crescer nas áreas ambientais
O grupo tem 40 mil trabalhadores em todo o mundo, dos quais 6.500 são portugueses que trabalham fora de Portugal, ainda que tenha referido o presidente que cada vez mais apostam na contratação de gestores e quadros técnicos locais (dos países onde opera).
Mota Santos referiu por várias vezes a palavra “previsibilidade” para dizer que isso é o que a empresa mais valoriza em cada país onde está. Mesmo no Peru, disse, onde a política é muito instável com regulares golpes de Estado, há previsibilidade na economia. “Precisamos de planeamento, para dar previsibilidade, e execução que confirme essa previsibilidade e precisamos de motivar os empresários a ganhar escala, a juntarem-se, a juntarem forças”, disse.
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