«SÃO PAULO – A união entre a TAM e a chilena LAN é coisa antiga, diz Marco Antonio Bologna, presidente da holding brasileira, que tem como principal missão concluir o negócio até o fim do ano. O namoro entre as duas empresas começou nos anos 90 sob a batuta do comandante Rolim Amaro, fundador da TAM. Rolim sempre acreditou na consolidação do setor aéreo e é sob esta inspiração que Bologna antecipou ao GLOBO o interesse na privatização da TAP, a compra, em dois meses, de um terço da regional Trip e a disposição de entrar na concessão de aeroportos.
Como está o processo de fusão com a LAN? Já houve efeito prático?
MARCO ANTONIO BOLOGNA: Por enquanto, nenhum. O Tribunal de Defesa do Chile proibiu os atos de fusão enquanto não terminar sua análise e, a pedido de uma associação de consumidores, realizará audiências até o fim do mês para discutir os reflexos da operação, principalmente na linha Santiago-SP. No Brasil, deverá coincidir com a aprovação do Cade. Depois disso, temos outro caminho crítico, que é a aprovação dos acionistas não-controladores das duas companhias. No caso da TAM, vamos fazer uma oferta pública na Bolsa para que os minoritários possam trocar as ações da TAM pelas da Latam, numa relação de troca favorável, terá um prêmio. A gente vai solicitar a adesão de 95% desses acionistas, que têm 54% do capital (46% são da família Amaro). Se eles não quiserem, o negócio não sai.
Por quê?
BOLOGNA: Porque teremos que comprar a participação daqueles que não aceitarem o fechamento de capital. É muito dinheiro, pois a TAM vale na faixa de US$ 3 bilhões a US$ 3,5 bilhões. Do lado da LAN, temos que ter adesão de 97,5%. Temos que realizar essas duas grandes operações para consumar a fusão. A gente prevê que isso aconteça no quarto trimestre de 2011.
A criação da Latam afetará os empregos na TAM?
BOLOGNA: Temos 18 mil funcionários na LAN e 28 mil na TAM. Não haverá impacto na tripulação, com a conectividade da malha, teremos mais voos (em dez anos, mais 450 aviões). O único lugar onde haverá algum impacto é em Guarulhos, onde as duas operaram. Mas queremos ampliar os voos para Miami e Buenos Aires e vamos precisar de mais gente. O impacto maior será na administração.
O governo trabalha para elevar de 20% para 49% o limite de participação estrangeira nas aéreas. Como isso pode influenciar no acordo com a LAN?
BOLOGNA: Os direitos de voto da família Amaro serão no montante necessário para atender à lei atual, 80%. Se a legislação mudar para 49%, a família terá 51% do direito a voto e, se depois virar zero, a gente adapta.
A TAM tem interesse na TAP?
BOLOGNA: Estamos acompanhando a situação da TAP, que não tem saída, a não ser que seja privatizada. A gente vai se manifestar quando o governo português lançar o edital de privatização. O nosso foco hoje é fazer a Latam (sair do papel), não tenho dúvida de que será a primeira operadora em voos na América do Sul, a segunda no mercado americano e a quarta na Europa
Mas qual a importância estratégica da TAP no Brasil?
BOLOGNA: A TAP, a partir de Lisboa, atende a dez cidades brasileiras. Criou um tráfego que é um negócio que tem que se olhar. Quem vai ficar com esse tráfego (após a privatização)? Estão vindo nossos amigos árabes, que têm capital e petróleo e não pagam impostos.
A TAM vai comprar a Trip?
BOLOGNA: Vamos comprar 31% de participação na Trip, que, desde 2004, tem acordo de code share (compartilhamento de voos) conosco. Estamos trabalhando sobre os números. A Trip atua nos mercados regionais e a TAM nos grandes, com aviões maiores. Cerca de 70% do movimento está concentrado em 14, 15 aeroportos, temos que expandir em outros mercados. Em dois meses, anunciaremos o valor e o fechamento da operação.
O governo brasileiro prepara a concessão de aeroportos para acelerar obras. A TAM entrará neste negócio?
BOLOGNA: O modelo de concessão do novo aeroporto de Natal (São Gonçalo do Amarante) é um balão de ensaio e acho que o setor tem que estar atento. O edital será lançado em maio, vamos ver quais são as taxas de retorno possíveis, uma companhia aérea pode participar com 10%. Temos interesse em participar. Sabemos que o governo não vai deixar o setor construir sozinho um aeroporto porque seria conflito de competência. Temos interesse na construção de terminais. Estacionamento e hotel não são nossos focos.
Qual outro aeroporto brasileiro interessa a TAM?
BOLOGNA: Guarulhos, por exemplo. Há anos queremos ter um terminal de carga, somos um dos grandes operadores lá e temos só um terminal de lona. A gente quer participar, se fosse concedida uma área lá, já teríamos investido. Se for adotado o modelo americano, em que o governo faz a pista de pouso e táxi e concede a área por um determinado número de anos, a gente constrói. Se fosse possível conceder espaço em Guarulhos para melhorar o terminal, já teríamos construído. Não temos salas VIP porque não há área!
O senhor acredita que os aeroportos estarão prontos para a Copa de 2014?
BOLOGNA: Haverá um aumento de mais de 2,5 milhões de passageiros na Copa. Ou seja, o que estava previsto para 2020 vai acontecer em 2014. Será um período em que vamos ter contingências da nossa parte e da parte do regulador, sobretudo nos horários de pico e nos dias de jogos do Brasil, que serão praticamente feriados, com aumento do fluxo dentro do país. Medidas emergenciais ajudarão.
O senhor não acha que o governo atua timidamente para solucionar os entraves?
BOLOGNA: A decisão da presidente Dilma Rousseff de criar a Secretaria de Aviação Civil e nomear um técnico mostra que há disposição de enfrentar o problema. Com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), nos últimos anos, houve muito avanço na regulação. Estamos com o mercado crescendo, a competitividade das companhias aumentou, a participação das empresas menores já chegou a 16%, fizemos acordo de céus abertos com EUA e União Europeia. Agora, o modelo da infraestrutura precisa ser definido.
O que é preciso ser feito para ampliar de forma definitiva a capacidade dos aeroportos?
BOLOGNA: Ampliar Viracopos (Campinas) daria grande alívio para desafogar a base paulista, mas tem ter que uma via de acesso. Tem que fazer alguma coisa em Guarulhos, construir o terceiro terminal de passageiros, garagem, aumentar a pista e, para os próximos cinco anos, tem que se avançar na construção do quarto aeroporto de São Paulo.
O Galeão, que está ocioso, não tem um papel de destaque nos planos da TAM?
BOLOGNA: Anunciamos recentemente o aumento da frequência de voos internacionais a partir do Galeão, está em fase de implementação. Para o próximo ano, quando recebermos mais aviões, vamos avaliar.»
Geraldo Doca, artigo publicado na página de internet “Yahoo Noticias/Globo”
(23 Abril 2011)