«Fusões e aquisições, conjuntura económica e ambiente são algumas das palavras de ordem de uma indústria que não vai conseguir manter a rota de recuperação em 2011.
Depois de um ano negro em 2009, este ano as companhias de aviação vão atingir lucros globais de 11,2 mil milhões de euros. O crescimento travará, novamente, em 2011, ano em que os resultados vão cair para 6,8 mil milhões de euros, de acordo com previsões divulgadas hoje pela Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA).
Giovanni Bisignadi, director-geral da associação, que representa 230 transportadoras aéreas, deixou claro, num encontro com jornalistas, em Genebra, que o sector enfrenta grandes desafios, no futuro:
O tigre asiático
Um deles é o “rápido crescimento dos mercados emergentes”, especialmente da Ásia, que será a grande responsável pelo aumento do número de viagens no mundo. “Tradicionalmente, o maior mercado era a América do Norte. Em 2009, 665 milhões de pessoas visitaram a região, enquanto o mercado asiático foi visitado por 662 milhões”, explicou o responsável. A tendência será para que a Ásia se torne, rapidamente, no número um no mundo. “Em 2014, prevê-se que o número de viajantes cresça para 3,2 mil milhões. Mais 800 milhões do que hoje. E, desses 800 milhões, 360 milhões visitarão o território asiático”, acrescentou Bisignani.
O caminho da consolidação
A indústria tem assistido a sucessivos movimentos de fusão de transportadoras aéreas, como aconteceu, este ano, com a espanhola Iberia e a britânica British Airways. “É algo que está a mudar o sector”, referiu o director-geral da IATA, acrescentando que “algumas consolidações têm sido mais bem sucedidas do que outras”.
O objectivo destes negócios é, geralmente, a redução de custos através das sinergias que a junção de duas empresas com os mesmos propósitos gera. Além disso, permite crescer, sem fazer investimentos. Bisignani alertou, porém, que é preciso não esquecer “a liberdade” de cada companhia de aviação para que as fusões resultem.
Tolerância zero
Este ano, a IATA contabilizou 17 casos em que os aviões ficaram completamente inutilizados, o que, de acordo com a associação, resulta numa taxa de 0,66 acidentes por cada milhão de voos. “A segurança é um desafio constante e ainda há muito trabalho a fazer”, frisou o porta-voz da associação, que tem um programa de prevenção especial para os seus membros: o IATA Operational Safety Audit.
“A nossa prioridade é tornar a indústria cada vez mais segura, através da implementação de acordos com os Estados Unidos, a Europa e a Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) para partilharmos informação de segurança, bem como de auditorias ao handling, de novos sistemas de treino para os pilotos e mecânicos e de mais ferramentas para evitar acidentes”, avançou Bisignani, que deu o exemplo de África, onde a taxa de acidentes continua a estar 12,5 vezes acima da média mundial, como uma região onde será preciso fazer mais esforços.
Um controlo sem complicações
No último ano, o controlo de passageiros tem sido alvo de preocupação das transportadoras aéreas, que, além da segurança, tiveram de se focar na redução de custos e na simplificação de processos. Uma necessidade que resultou, por exemplo, na eliminação do duplo controlo dentro da EU.
“De uma forma geral, o controlo na aviação evoluiu acrescentando medidas de segurança às que já existiam, com pouca atenção à forma como todo o processo está interligado”, lamentou o director-geral da IATA. A solução está nas novas tecnologias, que permitam controlar “não só os objectos perigosos, mas também os passageiros perigosos”, acrescentou.
Bisignani espera que a indústria caminhe para um sistema em que seja possível identificar os passageiros através de impressões digitais, passaportes biométricos e cartões de embarque no telemóvel. “As pessoas passariam por um túnel, seriam sujeitos a um controlo, sem ter de desfazer as malas”, disse.
Negócios mais simples, custos menores
A IATA está, neste momento, a avançar com um programa que permitirá às companhias de aviação poupar anualmente 13,4 mil milhões de euros, ao mesmo tempo que tornam “as viagens mais convenientes”, referiu Bisignani. Trata-se de medidas de simplificação do negócio, que passam, por exemplo, pelo embarque através de telemóvel ou pelos bilhetes electrónicos, bem como inovações que estão a ser estudadas, em termos de sistemas de reservas de viaturas ou de hotéis.
Mas, em simultâneo, o sector debate-se com um aumento exponencial dos custos, que não está unicamente associado ao preço do combustível. Bisignani destacou a ideia, que está a conquistar os governos europeus, de criar mais taxas aos passageiros. E reforçou a necessidade de avançar com o Céu Único, um programa pan-europeu, através do qual foram aprovadas, recentemente, metas de redução de custos de 3,5 por cento, entre 2012 e 2014.
Dar prioridade ao ambiente
O porta-voz da IATA considerou que “o transporte aéreo está à frente de todas as indústrias”, no que diz respeito à protecção do ambiente, nomeadamente através de programas de utilização eficiente do combustível. “É algo que é partilhado por toda a cadeia de valor: aeroportos, companhias de aviação, serviços de navegação aérea e fabricantes”. A associação referiu que já foi conseguida uma poupança de 76 milhões de toneladas de CO2 desde 2004.»
Raquel Almeida Correia, artigo publicado no jornal “Público Economia”
(14 Dezembro 2010)
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