«Apertem os cintos. O Fantástico está a bordo de um avião prestes a pousar no meio do mar.Quem pega o voo, no aeroporto de Glasgow, pela primeira vez mal consegue esconder uma certa aflição.
Não é a proximidade das montanhas nevadas do Norte da Escócia nem a imensidão do Oceano Atlântico que deixa o passageiro preocupado. O voo pode ser tranquilo, em céu de brigadeiro. Mas, e a aterragem?
No mapa da Ilha de Barra, nosso destino final, não aparece nenhuma pista de pouso. E a aeronave não é um hidroavião, desses especialmente feitos para pousar na água.
Os horários dos voos para Ilha de Barra variam conforme a maré. Se esta mesma viagem, por exemplo, fosse na semana passada, estaríamos voando de manhã, bem cedinho, porque a maré estava baixa. Esta semana, os voos são à tarde. Segundo o comandante, com a maré baixa, o mar recuado, existe uma extensa faixa de areia, onde podemos pousar.O avião se aproxima da ilha e desce em direção à praia. Parece mesmo que vai parar dentro do mar. Mas a areia encharcada serve de freio. E o que poderia parecer um pouso de emergência. Nada mais é do que uma operação comum neste lugar.
Além de ser o único aeroporto do mundo com a pista de pousos e decolagens literalmente na praia, a torre de comando e o terminal de passageiros ficam em cima das dunas.
Mas tudo funciona, desde que a lâmina d’água na “pista” não seja superior a dez centímetros.
Cada descolagem uma aventura. Cada pouso, uma emoção.
“É muito impressionante, dá um friozinho na barriga”, diz uma passageira
Todos descem metendo o pé na água.
“É uma experiência única”, concorda outra turista.
São quatro voos comerciais diários para a Ilha de Barra que tem 1200 habitantes. O avião é um bi-motor, com capacidade para 20 passageiros e dois tripulantes.
Antes de cada pouso ou descolagem, os funcionários do aeroporto fazem uma rápida vistoria na praia, só para checar se não tem nenhum leão marinho, um grande peixe morto ou qualquer outro obstáculo no caminho da aeronave.
“Nosso papel é muito simples”, diz o gerente do aeroporto. “Agimos como em qualquer outra pista do mundo. E garantimos a segurança”, conclui.
O repórter pergunta se eles nunca pensaram em ter um aeroporto tradicional.
“Isso foi proposto há alguns anos, mas a população da ilha votou contra porque esse aeroporto é uma atração turística. E nunca houve um acidente com vítimas em 77 anos de operação”, responde.
Contra um vento que atinge a média de 120 quilômetros por hora, o avião se aproxima bem devagar.
Hoje, a pista está com 600 metros extensão. Mas pode variar conforme a maré. É preciso parar antes de entrar mar adentro.
“É tranquilo, é como operar em qualquer lugar”, garante o comandante.
O aeroporto de Barra prova que se o céu já não era limite para os aviadores, o mar também deixou de ser.»
artigo publicado na página de internet “Globo“
(24 Fevereiro 2013)
Depois do fim da análise das autoridades no terreno, a remoção dos restos carbonizados do avião de passageiros envolvido no acidente e as necessárias reparações, as operações na pista C do aeroporto ...