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Queda de avião no Egipto pode levar a reforço de controlos nos aeroportos

«O presidente da Emirates Airlines, Tim Clark, disse-o este domingo, mas há mais gente a pensá-lo. A queda do Airbus A321 russo no Egipto, que provocou a morte das 224 pessoas que seguiam a bordo, pode ser um momento de viragem que leve à adopção de medidas de segurança mais apertadas nos aeroportos.
“O que aconteceu em Sharm el-Sheikh na semana passada, e em menor escala com…o avião [da Germanwings] são momentos de viragem para a nossa indústria”, disse, referindo-se também ao caso do aparelho alemão que em Março se despenhou nos Alpes franceses por acção do co-piloto, causando a morte de 150 pessoas.
Estas situações “têm de ser encaradas a nível industrial porque acho que não há dúvidas de que os países, os EUA, a Europa, vão fazer exigências extremamente rigorosas no modo de trabalhar da aviação”, declarou, segundo a Reuters, no Dubai Airshow, uma feira do sector aeroespacial.
A posição de Clark tem como pano de fundo a possibilidade de o avião ter caído devido a atentado – uma possibilidade que ganha força depois de um egípcio que faz parte do grupo de investigadores, e que pediu o anonimato, ter dito à Reuters que a equipa está “90 por cento segura” de que um barulho ouvido no segundo que antecedeu a queda foi causado pela explosão de uma bomba.

A conivência de alguém no aeroporto egípcio é uma das hipóteses levantadas por quem suspeita que na origem do desastre tenha estado uma bomba. A reivindicação pelo autoproclamado Estado Islâmico da queda do aparelho russo, que 23 minutos depois da descolagem começou a perder velocidade e a cair de forma dramática, contribui para essa tese.
A necessidade de reforçar a segurança nos aeroportos é partilhada por especialistas citados pelo jornal britânico The Guardian, que defendem a revisão de procedimentos de segurança para evitar a exploração de fragilidades que possam ser aproveitadas por terroristas.
O reforço do controlo do pessoal com acesso ao “airside”(lado ar) – zona para além das áreas de verificação de passaportes e controlo de bagagens –bem como da adopção de cuidados adicionais no processo de selecção e recrutamento de trabalhadores são medidas consideradas urgentes por alguns desses peritos.
Matthew Finn, que no mês passado presidiu a uma conferência sobre segurança na aviação, em Dublin, entende que a questão de funcionários que têm acesso ao “airside” sem serem inspeccionados ou sujeitos a medidas de segurança – caso dos transportadores de bagagens – tem de ser encarada.
“Precisamos garantir que as pessoas que contactam com as aeronaves em áreas seguras são as pessoas certas e garantir que estamos a recrutar as pessoas certas para os empregos. É preciso um quadro internacional sobre a forma de controlar todos os que trabalham no aeroporto e sobre quem o deve fazer”, disse Finn, director da Augmentiq, uma consultora de segurança aérea com sede em Londres.
Philip Baum, editor da revista Aviation Security International, que em Dublin falou sobre potenciais ameaças de elementos internos nos aeroportos, pensa que a segurança deve ser simultaneamente mais imprevisível e mais alargada, para confundir eventuais tentativas de atentado. Para este especialista, as actuais práticas de segurança têm fragilidades porque as exigências de controlo de pessoal são mínimas e mesmo aeroportos mais laxistas conseguem cumpri-las.
O melhor seria, em seu entender, diversificar, e ir variando, as formas controlo que poderiam ir da tradicional revista à vigilância electrónica. “Haveria muito mais segurança se não se soubesse que tipo de processo de verificação se ia encontrar”, disse. “Do ponto de vista de um terrorista isso é um pesadelo, por que não podemos fazer o mesmo com os funcionários de aeroporto?”
“Até abordarmos as falhas estamos sempre a trabalhar à superfície, a fazer algo que parece bom – e leva os passageiros a dizerem: ‘A segurança é realmente boa, até ficaram com a minha garrafa de água’ – mas que não significa nada em 2015. Temos de nos deslocar do teatro da segurança para a realidade de segurança”, disse também.»

artigo publicado no jornal “Público
(8 Novembro 2015)

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